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sábado, 18 de dezembro de 2010

Grupo Beatrice: Ditadura EUA

Olha o que o Império faz com quem ousa desafiar o seu poder... confinamentos similares aos praticados pela Inquisição na Idade Média! Manifestemos nossa solidariedade a esse jovem ! Ele não merece estar passando por isso!Grupo Beatrice: Ditadura EUA

domingo, 5 de dezembro de 2010

RELATO DE UM VIAJANTE NO SÉCULO XIX: UM TRIBUTO AO RIO

Há pouco tempo, deparei-me com uma das leituras mais deliciosas que se pode experimentar: trata-se do livro "Três Mil Milhas Através do Brasil" de James W. Wells, publicação da Fundação João Pinheiro e tradução de Myriam Ávila.(1995)
 James Wells era engenheiro inglês e viajou pelo Brasil de 1873 a 1875, contratado pelo governo imperial para traçar o itinerário de uma estrada de ferro. Reproduzo aqui parte do seu relato, quando sua embarcação chega à Baía de Guanabara:


"Não importa quantas vezes o viajante tenha-se aproximado deste litoral, ele sempre o impressiona e encanta; está sempre mudando, sempre diferente, pois dos variados pontos de vista as montanhas rochosas assumem formas diferentes; ou elas podem ter a aparência modificada pelas nuvens de neblina que as envolvem ou as escondem no nascer da manhã; ou podem estar limpas e claras, reluzindo à violenta luz do dia; ou tornarem-se rosas e matizadas com cores múltiplas aos raios do sol poente. Corramos para o tombadilho, através do salão sem tapetes, úmido e molhado com a esfregação da manhã (...). No tombadilho, a luz pálida e cinzenta da aurora nos desvela um estudo em tons neutros. Na direção da prais divisamos gigantescas e indefiníveis massas escuras e sombrias, nuvens e montanhas, tudo se confundindo; o céu é de um matiz suave e perolado, as longas ondas rolantes são pretas nas concavidades e manchadas de jorros cinza-pálido quando as cristas recebem os raios da luz alvorecente. Sob a sombra do toldo há figuras esquisitas de passageiros masculinos no déshabillé de robe-de-chambres e pijamas, todos de pé mais cedo para obter um vislumbre dos famosos esplendores matinais da costa. (...)Os minutos passam lentamente enquanto seguimos em frente com longa e suave arfagem sobre as vagas do atlântico e, à medida que a luz aumenta, montanhas de picos nus surgem aqui e ali acima das massas de nuvens a modo de flocos de lã; quando o sol aponta no horizonte, seus raios dourados iluminam uma cena de indescritível grandeza: as nuvens  começam a subir, e rolar para o alto dos montes marrons, cinzentos e escalvados, expondo à vista uma grande variedade de formas, contornos e cores. Quando avaçamos mais, a cena vai mudando continuamente, um perfeito caleidoscópio de paisagens; e, finalmente, o clímax - o cenário - surge diante de nós - : a entrada do Porto do Rio. Parece um perfeito dédalo de cumes e formas ásperas e irregulares mescladas com a névoa branca do mar; morros parecem empilhar-se sobre morros, os cumes mais altos ainda envoltos nas nuvens que restam; há contornos de gigantes, montanhas de topo plano com vertentes perpendiculares, morros arqueados, pães-de-açúcar,etc.; há gradiosas encostas precipitosas de gnaisse granítico escuro, manchadas de líquens e musgos, e costuradas com fissuras, ou montanhas revestidas com a vegetação verde-escura da floresta. O cenário é magnífico em forma e rico em cor, um verdadeiro sonho de um país de maravilhas, um objeto com que Turner se deleitaria, e bem merecedor de uma viagem ( e, especialmente uma viagem agradável) desde a Inglaterra, para ser visto. Muitos escritores já traçaram comparações entre esta e algumas das mais celebradas paisagens costeiras do mundo, mas todos concordam, unanimemente em dar a palma ao Rio. (...) Ao longo do litoral, estendendo-se pelos muitos morros, e aconchegadas em meio à brilhante e reluzente folhagem da vegetação tropical das terras elevadas ao fundo, há uma vasta cumulação de igrejas com campanários ou torres em forma de minaretes, conventos antigos e amplos, prédios gigantescos e altos, e casas com balcão de todas as cores imagináveis - brancas, rosa, azuis, cor de camurça e amarelas, com telhados de telhas vermelhas.(...)"

Bem, esse é apenas um pequeno trecho da obra, que é composta de 02 volumes. Wells descreve ainda paisagens pitorescas quando da sua viagem pelo interior do Brasil e diálogos interessantes com a população dos lugarejos. Tudo isso em pleno século XIX relatado por um conhecedor de lugares no mundo inteiro! E capaz de se deslumbrar com as belezas da terra brasilis. A tradução de Myriam Ávila é magistral!